quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Origem (Inception)


EUA/ Reino Unido / 2010 / 148 mim.
Em um futuro onde a tecnologia possibilita entrar na mente das pessoas através dos sonhos, Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um habilidoso ladrão especialista em extrair informações do subconsciente. Em troca de sua redenção recebe um trabalho considerado impossível; plantar a origem de uma ideia na mente do inimigo de seu cliente.

Leonardo DiCaprio está de volta em mais uma positiva atuação, porém seguindo o mesmo padrão e estilo dos seus últimos filmes. Por isso, não se assuste ao ver um personagem engenhoso, inteligente e perturbado em meio a uma trama confusa. Não, não é A Ilha do Medo; não é Rede de Mentiras; tampouco Os Infiltrados.

O filme propõe uma ideia interessante. Não nova, contudo. Invadir sonhos não é novidade para ninguém. O malvado Freddy Kruger, por exemplo, adorava matar suas vítimas através dos sonhos. Já Arnold Schwarzenegger teve seus sonhos controlados e foi viver uma aventura em Marte em o Vingador do Futuro. Não devemos esquecer também de Matrix, que nada mais era que um mundo de sonhos onde, assim como em A Origem, as pessoas eram "plugadas" (só que na ordem inversa de sonho e realidade).

Não me intérprete mal, admirável leitor; gosto muito do diretor Christopher Nolan; Amnésia... O Grande Truque... Os dois novos Batman... São todos excelentes filmes! Nolan consegue agradar a muitos, e é seguro dizer que já deixou um legado com sua inquestionável competência. Contudo, em A Origem, ele parece um pouco apressado; Junta ótimas ideias e assuntos complexos, mas os dispõe sem muita profundidade, o que os torna, ora confusos, ora triviais.

Uma característica do cinema de Nolan é expor o psicológico dos personagens deixando toda a trama em segundo plano. O que vemos em seus filmes é mostrados através dos olhos desses personagens. Isso, além de enriquecer seus filmes, ajuda na imersão do espectador na história e mensagem. É justamente aí que vemos o diretor errar em A Origem. Há momentos em que os conflitos psicológicos do protagonista são mais relevantes do que a trama, e esta, depois volta a assumir seu plano principal. E isso vai se repetindo até o término do filme, quando já não se sabe o que realmente importava.

Um grupo reunido; cada um com uma habilidade específica; ladrões, golpistas, arquitetos, químicos e um milionário financiando a ilícita operação... Sim, é o tão conhecido clichê dos filmes de assalto... Entretanto não podemos considerá-lo apenas mais um dentre muitos, sem levar em conta a gravidade da ficção abordada e a mensagem proposta por Nolan.

Fugir à realidade... Viver em um sonho onde tudo pode ser como desejamos, sem problemas, sem dores; ter a possibilidade de uma segunda chance (acaba-me de vir à mente outro filme que também abordou o assunto: O belo Vanilla Sky, onde o personagem de Tom Cruise encontra refúgio à opressiva realidade em um contínuo sonho). A personagem de Ariadne (Ellen Page) é um exemplo de quanto às pessoas gostariam de ter mais controle das rédeas da vida (e não ser um mero "peão de xadrez" - como seu próprio totem representa).

Além de toda dissimilação da realidade, temos outro assunto delicado; a inserção: Plantar uma ideia na mente de alguém e fazer disso uma verdade. O que é isso senão uma metáfora à mentira ou a influência? Como foi dito pelo inescrupuloso Goebbels "uma mentira cem vezes dita, torna-se verdade".

Assuntos filosóficos à parte, seguimos aos outros pontos do filme: Bonitos e convincentes efeitos especiais. A cada transição de sonho e realidade um delírio diferente e efeitos de encher os olhos. O desdobramento dos cenários é incrível e a cena da gravidade (paredes) é, de longe, a melhor cena do filme (onde também é possível encontrar uma parábola; tudo está bagunçado e de pernas pro ar; os personagens estão perdidos nas realidades - assim como o espectador).

Concluo que, o único problema de A Origem foi Matrix ter dado "origem" a tudo isso antes.

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Atenção: Se você ainda não assistiu ao filme, pare de ler agora mesmo e pule até as curiosidades, no final da postagem; o texto abaixo detalha a trama e o final.

O filme não é tão complexo e é bem explicado pelos próprios personagens. Entretanto, é natural se confundir um pouco com os níveis dos sonhos e, principalmente, de quem são eles. Clique para ver um interessante infográfico que explica essa sequência.

Todavia, o final é a parte mais intrigante do filme. Exaltado com o reencontro dos filhos (a conquista de redenção), Cobb gira seu pião para ter a certeza de não estar sonhando, mas mesmo sem esperá-lo cair, parte para o ansiado abraço. A câmera volta ao pião e filme termina, com o este ainda girando. Eis então a dúvida dos espectadores: Estava ele sonhando?
Até hoje é possível encontrar pessoas discutindo o assunto em fóruns pela internet afora, mas não há nada muito conclusivo a respeito.

Veja que, muita coisa leva a crer que ele estava em um sonho; Quanto Cobb é interrompido na cena do banheiro, por exemplo, ele também não consegue observar o peão, e já a partir dali, não temos mais certeza se ele está acordado.

Se observarmos as crianças de Cobb, é possível crer que elas continuam do mesmo tamanho (idade) e com as mesmas roupas.

Surgem então as controvérsias: O responsável pelo figurino do filme, Jeffrey Kurland, garantiu que as roupas são diferentes e conclui "... olhe novamente!".
Em outra ocasião, perguntaram ao Michael Cane (sogro e professor de Cobb) a respeito do pião e estas foram suas palavras:
"O pião cai no fim, é aí que eu volto. Se eu estou em cena é porque é real, porque nunca estou no sonho. Eu sou o cara que inventou o sonho."

São várias as possíveis interpretações; eu, por exemplo, seria capaz de interpretar que o filme inteiro não passa de um sonho de Cobb.

A verdade é que Chirs Nolan deixou o maldito pião girando para fazer as pessoas ficarem dias ruminando a questão. Talvez até mesmo para nós incitar à reflexão da maneira como vivemos nossas vidas, de que devemos deixar para trás o que já vivemos e seguir em frente com astúcia para encarar realidade, seja ela quão dura for. Ou ainda usou o pião como um "espelho" para o obtuso espectador (se você se tornou o pião, pare de girar).

Em síntese, para os que ainda se preocupam com isso, eis minha melhor explicação: Não importa!
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Curiosidades:

Observe que palavra temos ao juntar a primeira letra dos primeiros nomes dos personagens principais: Dom, Robert, Eames, Arthur, Mal, Sato.

Frase:

Couldn't somebody have dreamt up a goddamn beach?

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