segunda-feira, 2 de maio de 2011

Onde Começa o Inferno (Rio Bravo)

1959 / USA / 141 mim
Quentin Tarantino uma vez disse que, antes de entrar em um relacionamento amoroso, ele mostra Rio Bravo para a garota e, caso ela não goste, não há relacionamento.

O excêntrico diretor pode ter exagerado um pouco ao dizer isso, mas Rio Bravo definitivamente é uma obra obrigatória!

John T. Chance (John Wayne) é um virtuoso xerife da pequena cidade de Presidio, no velho oeste americano. Tem seus dias de calmaria acabados quando prende o irmão de um destemido rancheiro da região. Conta apenas com a ajuda do velho debilitado Stumpy (Walter Brennan), o bêbado Dude "Borachón" (Dean Martin) e do juvenil Colorado (Ricky Nelson) para guardar o prisioneiro e, principalmente, suas vidas. São oito dias até que o cavalaria americana chegue para levá-lo a julgamento; tempo mais do que suficiente para a gangue de bandidos tentarem um resgate, em meio a tão desguarnecida resistência. Exposto a toda essa tensão, o bom xerife ainda encontra tempo para evolver-se com a intrigante Feathers (Angie Dickinson), uma hóspede temporária no hotel do fiel amigo mexicano Carlos (Pedro Gonzalez Gonzalez).

Boas cenas de bangue-bangue, quadrilhas de bandoleiros, emboscadas, momentos de bravura com exímios atiradores em um ambiente com pouca lei, pesadas doses de whisky, jogos de poker e, sem contar é claro, rolos de feno sendo arrastado pelo impetuoso vento. Rio Bravo seria só mais um bom filme de faroeste se não fosse pelo primoroso trabalho empregado nos personagens, que são espontâneamente apresentados e muito bem construídos ao longo da trama.

John Wayne (1907 - 1979)
É desnecessário falar de John Wayne e de seu papel como xerife John T. Chance. Seu legado o torna imune à qualquer crítica e eu não me atreveria nem mesmo a comentar sua inquestionável atuação. Na verdade é dispensável falar de todo o elenco em si; mas então eu não teria muitos argumentos para fazer você, intrépido leitor, assistir o filme, caso não o tenha assistido ainda.


Dean Martin (1917 - 1995)
Dean Martin, além de sua carreira no cinema, foi também um famoso cantor. Em Rio Bravo, seu personagem Dude tem muitos conflitos psicológicos. Abandona o trabalho junto ao xerife por uma mulher. Com uma forte decepção amorosa, torna-se um alcoólatra e mendigo, pegando moedas de baldes de cuspe. Na trama, luta contra o vício, e busca sua integridade mental. Sua força de vontade é um dos pontos altos do filme.

Walter Brennan (1894–1974)
O espirituoso Walter Brennan, que atuou em mais de duzentos e trinta filmes, é, até a presente data, o único ator a ganhar três Oscars de melhor Ator Coadjuvante. Ele interpreta o carismático Stumpy, o fiel ajudante do xerife que mete bala em qualquer pessoa que não se identifique ao adentrar à cadeia. Ele garante verdadeiras gargalhadas com seu jeito resmungão e emociona com seu puro coração. 


Ricky Nelson (1940–1985)
Ricky Nelson, o jovem pistoleiro Colorado, estrela o terceiro filme de sua carreira, para também depois ser um prestigiado cantor. Seu papel, embora possa parecer sutil à trama, retrata a mudança do pensamento e como uma nova geração evoluiria para um mundo mais "sensato". O xerife acredita em sua habilidade, pelo simples fato de ele não precisar prová-la.


Angie Dickinson (1931 - ...)
A bela Angie Dickinson representa, ao meu ver, a esperança na história. É ela que, em meio a tantas complicações, faz com que o xerife Chance tenha forças para manter-se íntegro. O xerife exerce a mesma força sobre ela, que busca um recomeço depois de tantas desventuras.

Embora menos importante na trama, não podemos esquecer de Pedro Gonzalez Gonzalez, que faz o mexicano Carlos. Além de ser prestativo ao xerife, tem interessantes definições para o comportamento feminino.

Esse é somente um breve resumo desse riquíssimo elenco e seus respectivos personagens que garantem um memorável western, que teve influências de tantos precedentes e certamente influenciou muitos outros a sua frente, deixando uma boa amostra da contribuição do diretor Howard Hawks na sétima arte.

Destaque para a maravilhosa cena em que os atores cantam "My Rifle, My Pony and Me" e "Cindy" na delegacia. A paz contida na cena transcende o toda a história empregada. É nesse exato momento que vemos a imortalidade dos personagens.

Rio Bravo agrada com sua naturalidade; eu que, intuitivamente procuro ricas mensagens psicológicas e grandes filosofias morais nas obras que assisto, fui extasiado diante de tão envolvente simplicidade.

Curiosidades:

Como já foi dito, ambos Ricky Nelson e Dean Martin tiveram carreiras de sucesso como músicos.

Em todo o filme, há somente dois close-ups de câmera; no início, quando o bandido Joe mata o cowboy no bar e quando Dude tenta enrolar seu cigarrinho com as mãos trêmulas.

Rio Bravo, o título original do filme, é como os mexicanos chamam uma parte do Rio Grande, um dos maiores rios da América do Norte. Este serve de fronteira entre os EUA e o México, onde é conhecido como "Río Bravo del Norte".

Frase:

"... Nothing on his stomach... nothing but guts!"

Nota: 9,5

Um comentário:

  1. Ótimas reviews seu Áthila :)
    Gostei mesmo. Já estou seguindo.
    E vc tem razão: os tempos são difíceis mesmo para os sonhadores, por isso somos tão especiais. Sempre acreditando, mesmo contra as circunstâncias.

    bjao
    Qdo puder passa lá:

    www.equemnaoamaviajar.blogspot.com

    ResponderExcluir